12 de abril de 2006
a poesia / antónio josé forte
MEMÓRIA
À flor da terra a flor de fumo
dos meus cigarros adolescentes
fumados amorosamente entre fantasmas
desse tempo
os meus pulmões que dançam
os meus olhos de desobediência civil
fascinados
que saúdam o arco histérico do desejo
o meu nome que flutua
na orla do furor
desse tempo
uma paisagem de nuvens inventadas
para as minhas aves altíssimas
suspensas sobre a morte
chuva do princípio do mundo
escrita na minha pele
com a língua das tempestades
todas as ruas secretas
por onde não passa
o manequim de patas de alcatrão
devorador do ar
eu beijei o crânio azul da noite
ajoelhado numa bandeira ardente
entre a bela e o monstro
dormi entre frases imensas e bárbaras
e puríssimas
pronunciadas pelo mistério
desse tempo
uma onda de silêncio deslumbrante
onde voam flores negras
quando anoitece do lado do amor
e um homem com passos escarlates
que atravessa o nevoeiro
agora a sombra no meu peito
de um avião que passa
à velocidade da erupção dos teus cabelos
quando amanhece neles
como uma coroa de versos
na estátua jazente do único
a cabeça voltada para o lado intelectual da morte
os olhos muito abertos para o pranto de súbito
todos os nus uma criança incluída
presos por um fio de sangue
definitivamente ás estrelas
e a minha assinatura do fígado sobre as águas
em vez do meu nome leiam
Mil Crimes de Amor numa torre de marfim
eu sei
uma pequena multidão petrificada
ameaça escurecer os rostos os mais belos
é ela que avança contra os relógios de sol
eclipse total se não há
espelhos para as insónias negras
se não há para a biografia completa do homem
um grande amor da cama à música das esferas
passando por um tremor de terra
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
lisboa 2003
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