29 de dezembro de 2006

falso lugar #049


Lisbeth Zwerger



febre



eles deixaram-me
porque lhes pedi a febre

não há mundo
no que não se incendeia

escuta:
sou uma vela branca
a murmurar a sua chama

apaga-me
se quiseres ir






11 de dezembro de 2006

a poesia / henri michaux



Náusea Ou é a Morte Que Se Aproxima?

27 de abril



Rende-te, coração.
Lutámos tempo de mais,
Que se acabe a minha vida,
Não fomos cobardes,
Fizemos o que pudemos.

Oh! Alma minha,
Ou ficas ou vais,
Tens de te decidir,
Não me apalpes assim os órgãos,
Ora com atenção, ora com desvario,
Ou vais ou ficas,
Tens que te decidir.

Eu, por mim, não posso mais.

Senhores da Morte
Nem vos aplaudi, nem blasfemei contra vós.
Tende piedade de mim, viajante de tantas viagens sem
bagagem,
Sem amo, sem riqueza, sem glória,
Sois de certeza poderosos e ainda por cima engraçados,
Tende piedade deste homem transtornado que antes de
saltar a barreira já vos grita o seu nome,

Apanhem-no no ar,
E, se for possível, que se adapte aos vossos
temperamentos e costumes,
Se vos aprouver ajudá-lo, ajudai-o, peço-vos.






henri michaux
“equador”
trad. de ernesto sampaio
fenda
1999