28 de fevereiro de 2008
mais longe
fora do tempo
é mais longe do que qualquer espelho
minha ilha
meu incêndio de pedra
sobre a corrente assassina
de me perder
cansa-me de água e de sol
inquieta-me
do segredo das sementes
e do chão tóxico
dos vulcões
em que me deitei
quando a noite me atormentava
de não chegares
quando a madrugada
me matava de partires
12 de fevereiro de 2008
a poesia / jaime rocha
24.
Era um encontro impossível. Deitados à noite
sobre uma colcha apenas conseguiram tocar-se
com o choro, mas o cavaleiro não conhecia esse
segredo, nem via que o seu beijo se assemelhava a
uma morte definitiva. Porque tudo nele era matéria
flutuante, não suportava a felicidade. Uma luz
que não morria saía dela, como um barco que
demora séculos a desfazer-se abandonado num
porto, já devorado pelas algas. Por isso, o homem
vestia de novo a armadura e esperava até que,
desaparecido o anjo, solta para a caça, ela voltasse
a ser a presa sem covil, à mercê da sua lança, onde
por suas próprias mãos havia colocado uma insígnia.
jaime rocha
zona de caça
relógio d´água
2002
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