BAUDELAIRE, A FANFARLO
Entre nós, não se dá grande valor à arte da dança, diga-se de passagem. Todos os grandes povos e, antes de mais, os da antiguidade, da Índia ou da Arábia, a cultivaram a par da poesia. Para certas sociedades pagãs de outrora, a dança está tanto acima da música como o visível e as coisas criadas estão acima do invisível e do informe. Só aqueles a quem a música consegue comunicar impressões semelhantes às da pintura me poderão compreender. A dança é capaz de revelar tudo o que a música contém de misterioso e tem ainda o mérito de ser humana e tangível. A dança é a poesia dos braços e das pernas, é a matéria, graciosa e terrível, animada e embelezada pelo movimento. Terpsicore é uma Musa do Sul; imagino-a muito morena, a dançar pelas searas douradas; os seus movimentos, impregnados de uma cadência precisa, constituem também sublime motivo para a estatuária. Mas a católica Fanfarlo, não contente em rivalizar com Terpsicore, chamava ainda a si toda a arte das divindades mais modernas. Nessas zonas de bruma, confundem-se, entre si, formas de fadas e de ondinas menos indolentes e vaporosas. A Fanfarlo foi ao mesmo tempo a personagem de um capricho de Shakespeare e a de uma comédia bufa à italiana.
Entre nós, não se dá grande valor à arte da dança, diga-se de passagem. Todos os grandes povos e, antes de mais, os da antiguidade, da Índia ou da Arábia, a cultivaram a par da poesia. Para certas sociedades pagãs de outrora, a dança está tanto acima da música como o visível e as coisas criadas estão acima do invisível e do informe. Só aqueles a quem a música consegue comunicar impressões semelhantes às da pintura me poderão compreender. A dança é capaz de revelar tudo o que a música contém de misterioso e tem ainda o mérito de ser humana e tangível. A dança é a poesia dos braços e das pernas, é a matéria, graciosa e terrível, animada e embelezada pelo movimento. Terpsicore é uma Musa do Sul; imagino-a muito morena, a dançar pelas searas douradas; os seus movimentos, impregnados de uma cadência precisa, constituem também sublime motivo para a estatuária. Mas a católica Fanfarlo, não contente em rivalizar com Terpsicore, chamava ainda a si toda a arte das divindades mais modernas. Nessas zonas de bruma, confundem-se, entre si, formas de fadas e de ondinas menos indolentes e vaporosas. A Fanfarlo foi ao mesmo tempo a personagem de um capricho de Shakespeare e a de uma comédia bufa à italiana.
(…)
charles baudelaire
a fanfarlo
trad. antónio guerreiro e fernando guerreiro
hiena editora
1988
charles baudelaire
a fanfarlo
trad. antónio guerreiro e fernando guerreiro
hiena editora
1988
3 comentários:
Gil hoje descansei o dia aqui
os olhos beberam tanta beleza que me deixaram carregada de sentires
o bom gosto prima aqui também!
um abraço meu e queria tanto um livro teu
lena
Gosto do blog.. vou começar a visitar.. copiei um bocado do texto do baudelaire para por no meu blog.. espero que nao te importes..
lindo texto...
inspirou-me, de certa forma...
gosto de baudelaire, mas ainda não consigo ler os textos na língua original...
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